google.com, pub-3521758178363208, DIRECT, f08c47fec0942fa0 FIAT VERSUS FORD, O GRANDE DUELO NO RALI DOS ANOS 1970 - AUTOentusiastas Classic (2008-2014)

FIAT VERSUS FORD, O GRANDE DUELO NO RALI DOS ANOS 1970



Uma das formas mais puras de competição automobilística é o rali. Terreno sem preparação e carros não muito diferentes do que encontramos nas concessionárias e que podemos comprar formam uma ótima combinação para um evento sensacional.

Quando falamos de rali, existem diversos tipos. Um dos mais conhecidos é o de regularidade. Ao longo de um traçado determinado, alguns pontos de controle são posicionados e os carros devem passar por eles em um tempo/horário determinado. Nem antes, nem depois, o fator determinante de vitória é a regularidade. Particularmente, não acho muito interessante, mas requer uma grande habilidade e raciocínio rápido em contas.

Já o rali de velocidade, em que o fator determinante de vitória é a a própria velocidade, este sim, é um espetáculo à parte. Nada além de “corra o mais possível”. Volto a dizer, nada contra o rali de regularidade, que também é um esporte muito interessante, apenas não é o que mais me agrada.

Desde os primórdios, estradas vazias tanto de asfalto quanto de terra, ou mesmo cobertas de neve, são usadas como palco para as mais emocionantes e desafiadoras corridas de automóvel. Desde os anos 1930, muitos ralis de velocidade são disputados em todos os cantos do mundo, onde quer que haja pilotos dispostos a desafiar os limites do carro e de suas habilidades.
O WRC (World Rally Championship, ou Campeonato Mundial de Rali) é hoje o principal campeonato do mundo de rali de velocidade. Oficialmente lançado em 1973, o WRC fez fama e até hoje é destaque por onde quer que se realize.

Os modelos da Fiat esperando o começo dos testes

Ao falarmos dos tempos antigos do WRC, geralmente a primeira coisa que surge à mente é um Audi amarelo e branco cuspidor de fogo com gigantescos aerofólios, voando sobre uma estreita trilha em meio a florestas a mais de 200 km/h. Concordo que é uma cena difícil de não se lembrar, uma vez que estes eram os maiores “monstros” do rali de todos os tempos. Mas nem sempre foi assim.

Um pouco antes do surgimento do Grupo B, a tração integral e os motores turbocomprimidos não existiam. Os carros de rali do final dos anos 1970 eram basicamente carros de rua preparados para suportar o tranco das vias acidentadas, com tração em apenas um eixo e motores de aspiração natural. Os painéis externos da carroceria comumente eram trocados por peças de alumínio ou de compósito de fibra de vidro nos carros mais evoluídos, mas sempre mantendo a estrutura básica do carro de produção.

Neste meio surgiu uma das maiores rivalidades do rali, a disputa entre Fiat e Ford.




A Fiat já tinha uma grande estrutura montada para auxiliar sua equipe de rali, desde os tempos do modelo 124 Spyder. Na verdade, o responsável pela equipe italiana era a Abarth, preparadora independente que foi adquirida pelo grupo Fiat em 1971 e que participou de praticamente todos os desenvolvimentos de carros de corrida e versões esportivas da fábrica de Turim. 
Como era obrigatório os carros serem vendidos ao público, a Fiat fez a versão de rua do 131 Abarth

Há diversos rumores de que a Fiat entrou para o mundo do rali apenas para confrontar a Lancia e mostrar que seus carros também eram capazes de ser competitivos. A Lancia estava competindo há anos a um certo contragosto da Fiat, sua proprietária. Coisas de italianos...

O modelo 131 Abarth Mirafiori foi o sucessor do 124. O pequeno sedã italiano tinha tração traseira, suspensão traseira independente desenvolvida para competição e motor 2-litros de quatro cilindros aspirado, duplo comando de válvulas e injeção mecânica de combustível. Produzia 220 cv e podia girar até 8.000 rpm. Uma pequena maravilha da engenharia italiana da época.

Detalhes do 131 Abarth, com suspensão traseira independente

Seu antecessor tinha sérios problemas de confiabilidade, o motor era o principal deles. Com a troca do modelo 124 para o 131, o novo motor 2-litros seria a solução para tais problemas.

Pelo lado da Ford, o já famoso e bem-sucedido Escort RS era o representante inglês capaz de enfrentar o Abarth. A segunda geração do Escort, na variação RS 1800, na verdade não tinha motor 1.8-litro como o nome sugere, mas sim um Cosworth 2-litros BDA de duplo comando acionados por correia dentada (BD significa justamente belt driven) e dois carburadores duplos. A potência era até superior à do rival italiano.

As cores da Alitalia são famosas nos Fiat de rali

As gerações do Escort RS foram os maiores vencedores de ralis, ganhando em diversos campeonatos ao redor do mundo, por muitos anos. Assim como o Abarth, o Escort era equipado apenas com tração traseira, porém com eixo rígido. Os pilotos adaptavam-se facilmente ao eixo rígido, algo ainda relativamente comum na época. O Escort não usava materiais mais leves na carroceria e ainda assim pesava menos que o 131.

Os dois carros eram bem similares, mas o 131 era mais moderno que o Escort, pois já tinha suspensão independente, estrutura tubular na fixação das suspensões  e motor com injeção de combustível. As proporções dos dois carros eram bem similares, pois o tipo de carroceria era o mesmo. Reforços de segurança eram as poucas modificações feitas nos carros para participar das provas.

O Escort RS 1800 foi o representante da Ford na categoria

Esta disputa entre Ford e Fiat perdurou de 1977 a 1980. Apenas a Nissan, que corria sob o nome da Datsun — então sua marca nos mercados mundiais, Nissan só no mercado japonês — com seu belo 240Z, foi capaz de ser competitiva em meio aos dois rivais, mas não o suficiente para ganhar um campeonato.

Esta época marcou o fim de uma era no mundo do rali de velocidade, quando os pilotos tinham que fazer milagres com seus carros de pouca potência, se comparados aos mais de 500 cv dos monstros dos anos 1980. A tecnologia dos carros não era muito diferente dos carros de rua, salvo as modificações para os motores 2-litros renderem mais de 200 cv.

As grandes estrelas eram os pilotos. Homens destemidos (ou sem noção nenhuma, entenda como quiser) que regiam seus carros com maestria pelas estreitas vias e trilhas, sob sol ou chuva, no asfalto ou no gelo, sempre com o único objetivo de ser o mais rápido. Não posso ser injusto e esquecer do sexo feminino, pois a francesa Michèle Mouton é desta leva de pilotos geniais, e ela correu com o Fiat 131.

Controle absoluto do carro apenas na tração traseira

A Fiat escalou um time de pilotos de peso. Jean-Claude Andruet, Markku Alén, Sandro Munari, Fulvio Bacchelli, Timo Salonen, Michèle Mouton e Walter Röhrl foram os grandes nomes da equipe italiana. A habilidade de todos é inquestionável. Markku Alén foi campeão em 1978 e o alemão Walter Röhrl, em 1980. Em 1977, o campeão foi Sandro Munari com o Lancia Stratos, porém a Fiat foi campeã de construtores. No Rali da Argentina de 1980 a Fiat contou com o terceiro lugar de Carlos Reutemann, então piloto da Williams e terceiro colocado no mundial da F-1 daquele ano.

A Ford, por sua vez, tinha Björn Waldegård, Ari Vatanen, Roger Clark, Hannu Mikkola, Jean-Pierre Nicolas e Russell Brookes¸ entre outros. Em 1979 o campeonato ficou com Björn Waldegård e em 1981 a vez foi de Ari Vatanen, batendo até os novos Audi quattro e o Renault 5 Turbo. Fato interessante: o co-piloto de Vatanen foi David Richards, o homem forte da Prodrive, responsável pelos carros de competição da Subaru e pela grande divulgação de mídia do WRC moderno.
Detalhes do Escort RS 1800, praticamente o carro de rua

Os carros não tinham as modernas suspensões e pneus que os carros do WRC atual têm. Também não tinham a potência descomunal dos Grupo B, nem a tração integral. Cada décimo de segundo era conseguido no braço, na habilidade e na coragem.

Os dois fabricantes levaram muito a sério o Mundial de Rali neste final dos anos 1970. Investimentos altos colocaram os dois rivais em destaque perante aos demais. Equipes com diversos mecânicos e até engenheiros seguiam todo o trajeto dos carros. Helicópteros acompanhavam os pilotos durante as etapas e até transportavam peças de reposição para onde fosse necessário. O importante era vencer, a qualquer custo.

Garagem de preparação dos 131 da Abarth, estrutura e investimento por parte dos italianos

A Ford tinha um orçamento consideravelmente menor que o da Fiat, mas ainda era alto se comparado aos demais participantes. A equipe italiana trabalhando parecia uma bagunça, falar alto e correr de um lado para o outro era comum, mas é assim que os italianos sabem fazer, e faziam todo o serviço muito bem feito. Os ingleses da Ford, por sua vez, eram extremamente organizados e competentes.






É surpreendente como mesmo sem a força bruta dos motores mais novos, os pilotos eram capazes de fazer os carros serem muito rápidos. Esta época do WRC pode ser classificada como a mais pura forma de rali de velocidade. Sem turbo, sem tração integral, sem eletrônica. Apenas um carro “comum”, um piloto, um co-piloto e muita coragem.

A grande disputa entre Fiat e Ford terminou com dezoito vitórias para os italianos e dezessete para os ingleses, e com três campeonatos de construtores para a Fiat e apenas um para a Ford.

Mesmo mais moderno, o 131 era mais pesado que seu rival da Ford

Ao final da temporada de 1981, o novo regulamento que fez nascer o Grupo B colocaria fim aos anos da disputa entre Fiat e Ford. Tanto o 131 quanto o RS1800 estavam defasados demais em relação aos novos modelos. Ari Vatanen ainda conseguiu arrancar um segundo lugar no Rali da Suécia com o RS1800, mas as demais corridas foram dominadas pela Audi e Opel. 
A segunda geração do RS fez fama e conquistou muitas vitórias

A Fiat só aparecia como apoio à Lancia e Ferrari, resolvendo suas diferenças mais que desnecessárias. O 131 Abarth já estava aposentado. Anos depois, a Ford voltaria com o RS200, já adequado ao Grupo B e fabricado como um próprio carro de corrida especial para o rali.


Os rivais, cara a cara

A geração de pilotos e máquinas desta época merecem um grande reconhecimento, pois faziam o impossível para andar muito rápido com carros muito inferiores aos seus sucessores, e ainda em condições bem mais adversas. Verdadeiros heróis.

MB

Fotos: divulgação, internet, Abarth, autowp.ru, malloryknox, FIAT, Ford


18 comentários :

  1. Abarth é sempre sensacional. Um carro que merece destaque também, já na era dos 4x4 é o Lancia Delta Integralle HF, rapaz, que carro!

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  2. Duelo de titãs!

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  3. Bem, eu tive que olhar umas 5x a desviada espírita do Escort daquele tronco antes da casa....a entrada certeira do 911 na viela também foi de olhar ajoelhado.

    De repente, sinto minhas "habilidades" ao volante diminuindo, diminuindo.....rssss, acho que estão lá embaixo da cama, assustadas com os bichos papões do rally.

    Esses caras sabiam como tocar essas liras infernais pelas estradas, era apontar o bicho e tração para que te quero. Imortais!

    MFF

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  4. Acho sensacional esse Abarth. Carro lindo, com toda aquela cara de "carro de macho" dos carros de rally antigos. Só metal, graxa e coragem, sem muita parafernália.

    Mesmo o Fiat 131 original já é bem interessante. Pena não ter sido vendido no Brasil.

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    1. Mas tivemos aqui o Lada que nada mais era que o antigo 127 da Fiat
      Para os puristas ta ai uma opção de tração traseira interessante

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    2. O Laika era um Fiat 124, não 127. Este, por sua vez, foi o precursor do nosso 147.

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    3. O problema do Lada Laika é o peso. Aquelas chapas de aço são muito grossas. Lembro de um vídeo do Top Gear em que o Jeremy Clarkson dá uma marretada no paralamas de um lada, perto de onde encaixa a antena, e a lata mal afunda, hahahahahaha.

      Na argentina temos Fiats 124, mas ainda assim o 131 seria uma opção mais moderna e interessante.

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  5. Sem comentários.Sera que essas coisas boas ainda vão voltar um dia? Não custa sonhar.

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  6. No primeiro vídeo, temos um intruso na rivalidade: um Opel Kadett C.
    Milton, apesar de o Fiat possuir especificações mais interessantes que o Ford Escort, parece que era o Ford quem conseguia um comportamento mais neutro e previsível (dentro do possível, lógico) nas pistas. Seriam o chassis do Escort e a relação de direção responsáveis por essa façanha?
    Ah em tempo: o Renault Alpine A-110 - um dos mais espetaculares carros de todos os tempos - é contemporâneo dessas feras.

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    1. Fabio, é dificil saber ao certo o que pode causar este comportamento, ainda mais em um carro de rali que passa a maior parte do tempo "de lado". O estilo de pilotagem influencia muito, mas pensando apenas em termos de engenharia, a geometria de suspensão e a distribuição de peso (junto com os momentos de inérica, que dependem da localização da massa no veículo) podem fazer com que o carro seja mais ou menos "controlável".

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  7. Admirável a longevidade, e competitividade, dos Ford Escort (MKl e MKll) nos rallyes da Europa, notadamente na Bélgica. No Youtube há centenas de vídeos atuais, onde disputam palmo a palmo com carros modernos como Mitsubishi Lancer e Subaru Impreza.

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    1. Até hoje estes carros participam de corridas locais, e não fazem feio.

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  8. Meu sonho era ter um focus mk1 preparado para WRC.

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    1. Mas o Focus tem tração dianteira que nao vai bem em ralies
      Dei uma ideia acima do Lada Laika ( Fiat 127) que usa tração traseira
      O que voce acha?

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  9. MB:
    Seria interessante, se possível, um complemento a este post descrevendo a cena brasileira deste tipo de competição, à época. Se me lembro bem, houve uma disputa equivalente entre Fiat e Volks.
    Obrigado,
    AAM

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  10. Excelente texto. Sería legal também conhecer a participação no rally da ferrari 308 e porsche 911.

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  11. escort mkII é muito parecido com o doginho polara... que tive 2 rsrsrsrsrsrs

    sempre fico de queixo caído quando vejo esses vídeos.

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